
Matanza mesmo já diz sabiamente: "Consequência qualquer coisa traz/ quando é bom nunca é demais/ e se faz bem ou mal, tanto faz... tanto faz...". E no final das contas, arrisque. Sim!
A exemplo do que acontece nos tradicionais coffee shops da Holanda, o Cannabis Café é o primeiro lugar em que os usuários da droga podem se reunir e consumi-la sem risco de ter problemas com a polícia, contanto que haja um registro da necessidade uso por motivos medicinais. Seu surgimento está sendo considerado pelas organizações que lutam pela descriminalização da maconha como um dos principais avanços recentes no país, um reflexo de maior tolerância por parte do governo do presidente Barack Obama.
“Sem dúvida o governo Obama tem ajudado nosso trabalho. Houve uma mudança clara e absoluta de política e interpretação da lei”, disse Allen St. Pierre, diretor da Organização Nacional pela Reforma das Leis de Maconha (Norml, da sigla em inglês), um dos principais grupos defensores da legalização da droga nos Estados Unidos e responsáveis pelo recém-inaugurado café, em entrevista ao G1.
“Apesar de Obama dizer ser contra a legalização total da droga, ele pode ser creditado pelas mudanças que relaxam a repressão à maconha medicinal”, disse. O governo dos EUA anunciou em outubro que não vai mais reprimir o consumo de maconha para uso médico nos Estados do país nos quais ele é permitido. Um documento pede aos procuradores para que não usem recursos federais contra "indivíduos cujas ações estão em cumprimento claro e inequívoco das leis estaduais existentes relacionadas ao uso médico da maconha".
Legalização
Para o diretor do grupo, a inauguração do café é um passo adiante no sentido da legalização da maconha. “Cinco anos atrás isso seria muito improvável; há dez anos era impossível e nem se podia pensar nisso há vinte anos. A cada ano há uma aceitação maior de reformas, e este é mais um exemplo”, disse.
Ele admitiu, entretanto, que é difícil imaginar que todo o país vai permitir o uso da droga em pouco tempo, até por questões constitucionais e culturais. Nos Estados Unidos, os Estados podem decidir de forma independente em relação ao uso medicinal de maconha e os governos de Alasca, Califórnia, Colorado, Havaí, Maine, Maryland, Michigan, Montana, Nevada, Novo México, Oregon, Rhode Island, Vermont e Washington autorizam seu consumo nestes casos.
“As coisas estão se desenvolvendo em bases locais, onde há uma aceitação cultural maior”, explicou. Segundo ele, o Norml não vai tentar abrir nenhum café de maconha em locais mais conservadores, como Kansas, Oklahoma ou Geórgia. “A a cultura é mais aberta em locais como Seattle, Portland, Berkeley, Oakland, Sao Francisco, Denver. São partes do país em que os cidadãos aceitam algumas formas de distribuição legal de maconha, ou formação de comunidades em que o consumo é permitido.”
Segundo ele, estes locais são os “laboratórios da democracia”, e a Califórnia, uma das maiores populações e economias do país, pode se tornar um exemplo a ser seguido por outros estados e até pelo governo federal. “A Califórnia está seguindo um caminho reformador no sentido da descriminalização da maconha. Não parece impossível e distante pensar sobre um esquema de controle e taxação até mesmo para o consumo não medicinal da maconha no estado."
Uso médico e recreativo
Todo o avanço na legislação relacionada ao uso de maconha vem acontecendo com base na lei de cannabis para uso medicinal, pois apenas as pessoas com indicação podem usar a maconha e participar de comunidades em que há o consumo de maconha. Os parâmetros para o uso de maconha medicinal são muito variados, e mudam de um estado para o outro, explicou St. Pierre. Em alguns lugares, há sistemas mais simples e fáceis, enquanto outros têm um controle mais sério.
“No Maine, por exemplo, as pessoas podem ter alguns gramas de maconha seca, além de poderem cultivar cinco pés dela, sendo três em estado de maturidade. Na Califórnia, as pessoas não recebem uma receita médica indicando o uso de maconha, mas apenas uma recomendação oral do médico, e esta recomendação é checada pelos centros que podem fornecer a droga legalmente, registrando o paciente e permitindo que ela tenha acesso à maconha.”
Até a inauguração do bar de Portland, o uso da droga não podia ser feito em locais públicos. O Cannabis Café, tecnicamente um clube privado, é aberto a qualquer residente do estado de Oregon que faça parte do grupo Norml e tenha uma carteira oficial do uso medicinal da maconha - 21 mil pessoas estão registradas desta forma no estado para tratar mal de Alzheimer, diabetes, esclerose múltipla e síndrome de Tourette. Os "sócios" pagam US$ 25 (cerca de R$ 44) por mês para usar o café, que tem capacidade para cem pessoas. Por este valor, eles terão direito a receber a droga gratuitamente de outros usuários. O bar também serve comida, mas nenhum tipo de bebida alcoólica.
Apesar de a discussão legal até o momento se concentrar nos lugares em que há o uso médico da droga, a Califórnia já prepara um avanço na questão, admitindo que os cidadãos votem uma medida que permitiria que as decisões passassem a ser tomadas pelos municípios. Segundo St. Pierre, a cidade californiana de Oakland, que chega a ser conhecida como Oaksterdam, em referência à capital da Holanda, já se prepara para buscar o direito de ser a primeira em que a droga paga impostos e pode ser consumida livremente por qualquer pessoa.
“Os cidadãos de lá já votaram pedindo que a maconha seja taxada e legal, mas é preciso que a lei estadual permita essa decisão. Isso está sendo discutido e vai precisar de uma mudança na lei estadual. Haverá uma consulta na eleição de 2010, para que os cidadãos digam se permitem que municípios possam legalizar o uso de maconha, se quiserem. ‘Oaksterdam’ já está se organizando para isso, mas é o único lugar que esta se estruturando para autorizar o uso recreativo.”
Exemplo holandês
O grupo Norml constantemente usa o exemplo da Holanda como comparação para argumentar a favor da legalização da maconha nos Estados Unidos. A legislação do país europeu permite que alguns lugares credenciados vendam a droga livremente. “Trata-se de um país ocidental com valores parecidos com os norte-americanos que aprendeu há muito tempo que a única relação real entre maconha e drogas pesadas, como heroína, cocaína, é o canal de distribuição. Quando se separam os canais de distribuição, a probabilidade de um consumidor de maconha passar para drogas mais perigosas é reduzido”, argumentou St. Pierre.
Na medida em que relaxou o controle ao uso medicinal da maconha, o procurador-geral dos Estados Unidos, Eric Holder, deixou claro que a polícia e os procuradores continuarão trabalhando para punir os que usarem das leis destes estados para usar drogas ilegais ou traficar drogas.
FONTE: G1
Rapaz, foi um boneco de ventriloquia que passou na minha escola. Passou um ventrículo e foi incrível que a primeira apresentação que ele fez eu não pude assistir porque tinha que pagar. Pagava muito pouco mais eu não tinha grana. E então ficamos eu e mais uns cinco alunos sem assistir, mas ouvíamos os outros rindo. E no final, quando voltaram para dentro da sala de aula comentaram muito sobre o boneco que falava e eu dizia: "Pô, como é que pode", fiquei impressionado com essa história, como é que pode um boneco falar, não conseguia imaginar. Só que no outro dia para minha surpresa o cara se apresentou novamente e de graça, para todo mundo. Foi maravilhoso. Eu corri e fiquei logo na primeira fila, sentado no chão. Ele começou a brincadeira, e chamou Juquinha, o boneco: "Juquinha acorda, acorda Juquinha, acorda", e o Juquinha nada, não acordava. Ele pedia para a galera gritar: "Acorda Juquinha!" e todo mundo gritava em coro "Acorda Juquinha!" e o boneco não acordava. Eu me levantei, fui até lá e dei um tapa na perna do Juquinha (risadas). Quase que eu derrubo o boneco com o bonequeiro e tudo. Aí, ele acordou assustado com aquilo e eu achei fantástico. Pensei que eu que tinha acordado o Juquinha. (risadas).
Em que cidade foi isso?
Isso foi em Taguatinga, que é uma região administrativa de Brasília, em uma escola pública, dessas muitas escolas que tem por lá.
Há quanto tempo você já está na estrada com essas apresentações?
Olha, aprendendo eu estou desde 1981, acompanhando outras pessoas que eu considero meus mestres. Depois, de 1981 a 1984 eu vivi pelo Nordeste, entre idas e vindas à Brasília, sempre procurando conviver com mestres da cultura popular, mágicos, palhaços, ventríloquos, camelôs, toda essa gente da rua. Em 1985, eu voltei a Brasília e montei o Mamulengo Presepada, que é a brincadeira que eu já faço há 24 anos.
E quais são os temas que você utiliza em suas apresentações?
Olha, são temas universais porque eles cabem bem a qualquer público, em qualquer lugar, qualquer cultura, além dos temas particulares daquela cultura onde estou me apresentando. Então, eu sempre procuro saber, no local onde vou me apresentar, o nome de algumas pessoas, algumas situações que acontecem ali para que dentro da brincadeira eu possa utilizar esses elementos. Assim, eu faço uma comunicação com o particular e ao mesmo tempo universal porque essas coisas vêm desde sempre e estão em toda parte.
Que tipos de bonecos você utiliza durante o show? Quantos são? Tem algum tipo específico?
Olha, na minha mala ficam mais ou menos uns 25 bonecos. Não quer dizer que eu vá apresentar todos eles, todas as vezes que eu abri-la. Eu posso apresentar cinco, dez, quinze, dependendo da brincadeira, de quanto tempo, da situação, da reação do público. Então, tudo isso é muito improvisado, no sentido de que existem muitas possibilidades. Improvisação não é você fazer o dá na cabeça na hora não. Improvisar é você ter um repertório muito grande de possibilidades de atuação e, naquela situação, você usa uma daquelas possibilidades. O público pensa que você está criando na hora que você está improvisando, quando na verdade você está utilizando uma das milhares de possibilidades que você tem para aquela situação. Eu entro no jogo aberto, eu não sei o que vai acontecer quando eu começo a brincar. Eu tenho que ter só um arsenal de coisas e aí eu vou usando de acordo com o sabor do momento.
Como são feitos esses bonecos? Qual matéria você utiliza?
Geralmente é madeira, que é um material resistente, mas pode ser também cabaça, tecido. São sempre materiais orgânicos. Eu nunca utilizo matérias plásticas ou sintéticas. Sempre são materiais orgânicos mesmo, madeira, tecido e metal.
E quanto tempo você demora pra fazer um boneco? Dependendo da cidade você cria um boneco específico?
Depende. Eu já terminei de almoçar, comecei a esculpir um boneco e às duas horas da tarde ele já estava pronto, porque eu queria fazer aquele boneco e ia brincar à tarde. E tem boneco que você leva anos e ele nunca fica pronto. Ele fica te acompanhando o tempo inteiro, mas ele nunca está pronto. Então depende muito, não tem um tempo estabelecido não. Pode ser muito rápido e pode demorar muito.
Por quais lugares você já viajou com esses espetáculos?
Já andei uns vinte países. O Brasil todo, todo, todo, e depois toda a América Latina. Um pouco da América do Norte, e depois a Europa. Falta ainda a África e a Ásia, que eu gosto muito e são lugares que eu pretendo ir ainda, na África e no Oriente.
Como você maneja os bonecos? Como é feito todo o trabalho na apresentação? Você sempre usa bonecos ou às vezes é só você no espetáculo?
Às vezes sou eu usando objetos, mas se você considerar o boneco como um objeto, ou um objeto como personagem, com essa força, com essa anima, com essa alma, pra mim é indiferente. Eu sei que o público distingue o boneco de um objeto, mas eu, quando estou brincando, não distingo. Eu tanto sei que o boneco é um objeto, como eu sei que um objeto tem vida. Aí eu brinco com isso. Então não tem uma maneira, uma técnica para que eu possa falar a respeito. Eu posso falar que com o tempo você vai aprendendo e com a prática você vai sabendo utilizar cada boneco, cada material ou apenas o próprio corpo e aí ele acaba se transformando num meio de expressão também, de acordo com o que todo o público sugere.
Você acredita que essas apresentações de mamulengo sejam eficientes em passar alguma mensagem para as crianças, ou ajudá-las em algum ensino?
Claro, pode ajudar as crianças a dizer "Não" (pequena risada), ajudar as crianças a... eu gosto muito de brincar, a brincadeira do mamulengo é a minha brincadeira. A minha brincadeira é bem pedagógica e as pessoas sempre perguntam isso. O boneco vai cuspir, escarrar, vai arrotar, vai peidar, vai fazer xixi, sabe, essa coisas orgânicas que o ser humano faz mas não gosta de falar, não comenta e muitas vezes reprime. E essa repressão a naturalidade que a gente tem pode causar problemas e até mesmo doenças. Então quando eu brinco e um boneco faz xixi na platéia, e a platéia se diverte a beça com isso, para mim eu estou exercendo uma função educativa, uma função pedagógica. Eu posso não ser politicamente correto para o gosto das professoras do ensino formal ou da maioria dos conservadores, mas com certeza, pelos anos de experiência, eu sei que essas provocações com as professoras e esse convite às crianças para que elas sejam mais espontâneas, eu tenho certeza que isso é educativo.
Você já trabalhou num projeto, um Ponto de Cultura, certo? Conta pra gente como foi esse período.
Eu considero que até hoje eu trabalho em um Ponto de Cultura. Até mesmo porque antes de existir esse nome "ponto de cultura", eu já era de um Ponto de Cultura. É questão de um nome que o Estado, o governo deu a uma coisa que a gente já fazia. Então o ponto de cultura não é uma criação nova e nem ela acabou e nem vai acabar. O Ponto de Cultura é um lugar em que as pessoas se reúnem pra fazer cultura, principalmente uma cultura de algum interesse social, que beneficie a comunidade. Isso foi muito bom. É muito bom que o Estado, que o governo apoie esses grupos para que eles possam se fortalecer e desenvolver bastante o trabalho que já vinham fazendo. Foi o que aconteceu com a gente, nós crescemos imensamente nesse período que tivemos convênio como Ponto de Cultura. Ainda estou dentro dessa rede de Pontos de Cultura, e tenho crescido bastante, conhecido muita gente que faz um trabalho parecido e que tem questões e problemas parecidos. A gente vai encontrando também soluções parecidas para esses problemas. E, sobretudo, o fim dessa sensação de que a gente é só, de que seu trabalho é inglório, que não vai mudar nada. Quando a gente entra na rede a gente vê que tem muita gente fazendo, que tem muita gente mudando e a gente muda também nossa postura.
Você disse que antes de ser dado o nome "Ponto de Cultura", você já se considerava um Ponto de Cultura. Então seria um Ponto de Cultura ambulante?
Isso, exatamente! Um ponto em movimento (risada). Não é um ponto fixo não, é um ponto em movimento, porque onde eu chego, eu me apresento, faço oficinas e, sobretudo, converso com as pessoas. É muito bom conversar com as pessoas sobre a nossa profissão. Em geral, as pessoas tem uma ideia completamente diferente da nossa a respeito do nosso ofício. É bom surpreendê-los também com questões que também são do dia a dia.
Que ideias diferentes as pessoas têm da sua profissão?
As pessoas pensam que artistas, no geral, são portadores de um dom, de alguma qualidade especial ou diferenciada e, na verdade, isso é falso. Os artistas são operários, como eu disse, que trabalham com essa matéria-prima que é o sentimento humano, que são os jogos, as relações. Sem dúvida é uma profissão privilegiada, mas no sentido de que nós podemos nos comunicar com muitas pessoas ao mesmo tempo. Um pedreiro dificilmente faz isso, ou dificilmente a pessoa reconhece na parede uma comunicação do pedreiro com quem habita aquela casa. Artista é uma prática como qualquer outra profissão com um conhecimento que precisa ser desenvolvido.
Então, só para finalizar a conversa, eu gostaria que você deixasse alguma mensagem, um recado para esse público que assistiu você hoje.
É possível. Quem estiver interessado em fazer qualquer coisa parecida com o que viu, que gostou do que viu pode começar a praticar, que com certeza isso é bem possível. Isso me faz muito feliz, me faz muito bem e eu estou sempre colocando o público em contato com o outro, enquanto eu estou me apresentando. Então cada vez que me apresento eu trago essa energia e quando termina uma apresentação levo para outro lugar a energia também desse público. É uma coisa maravilhosa e que eu recomendo.