quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Reaproveitando ideias


Lavoisier, certa vez, disse: "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Abelardo Barbosa, eternamente conhecido como Chacrinha, o Velho Guerreiro dos programas de auditório, usou parte da teoria de Lavoisier para criar uma das grandes máximas da televisão brasileira: "Nada se cria, tudo se copia". E a filosofia não ficou só na televisão. A música também está repleta de exemplos gritantes de cópia.

Recentemente, dois casos me chamaram a atenção. Um deles envolvendo o novo fenômeno da música britânia, One Direction, também conhecido com a abreviação 1D. O grupo é uma boyband formada no programa X Factor. Após seus integrantes não se classificarem na categoria individual, os jurados do programa sugeriram que se juntassem e formassem uma banda, a One Direction. Acataram o conselho, foram aprovados na fase de grupo e conseguiram o terceiro lugar dentro da competição.. Em setembro deste ano, os garotos lançaram a música Live While We're Young, que rapidamente chegou no topo das músicas mais tocadas. Meninas histéricas, morrendo de amor pelos músicos adolescentes, alto número de visualização do clip no youtube, shows e mais shows pelo mundo. Tudo lindo.



Porém, um pequeno detalhe. Os fãs do 1D podem até não perceber, mas a introdução da música é uma cópia explícita do sucesso Should I Stay or Should I Go, da banda punk The Clash. A boyband deve ter pensado: "Ah, os nossos fãs nem vão conhecer música punk, não faz mal usar". Errado, faz mal sim. Primeiro que é cópia. Segundo que os histéricos pelos britânicos bonitinhos podem não ter percebido, mas fãs de punk e pessoas que acompanham o cenário musical perceberam. E em terceiro lugar: por que uma boyband vai copiar alguma referência de uma banda punk??? Alguns dizem: Pode ser uma homenagem que eles fizeram ao The Clash. Não, não foi. Foi uma cópia mesmo. A própria banda admitiu que o uso do riff inicial foi proposital, pois "é um grande riff", segundo o integrante Harry Styles. Dá uma olhada na música no vídeo abaixo e tire suas próprias conclusões.



Entre os não fãs, a 1D ganhou visibilidade também por outras especulações de cópia. Um desses casos foi protagonizada pelos fãs da banda. Ao verem um dos integrantes da banda usar uma camiseta com o emblema clássico do Ramones (também uma banda punk) e dizer que adorava aquela camiseta, os seguidores da banda pegaram a imagem estampada na camiseta, retiraram o nome da banda e dos integrantes originais e substituíram pelo nome da boyband. Outro caso que ganhou notoriedade foi o fato dos garotos terem gravado um clip supostamente na mesma praia que os norte americanos do Blink 182, banda de hardrock, gravaram um clip satirizando grupos que utilizavam rostos bonitinhos e coreografias para conquistar os fãs. Não vou entrar em detalhes sobre esses outros casos, vou me ater apenas ao plágio do The Clash, pois é fato provado e admito pela banda.

O outro caso no qual "nada se cria, tudo se copia", envolve o Red Hot Chili Peppers e o NX Zero. Não, espera, vamos corrigir isso. Não é o NX Zero e sim a Globo. Daqui a pouco algum leitor pode falar: "Ah, você tá criticando essas bandas porque não gosta delas, é preconceito". Não, não é. Vou exemplificar. Ano passado, os californianos liderados por Anthony Kiedis lançaram a música The Adventure of Rain Dance Maggie. Não vou nem mencionar o quanto a música é boa, com uma linha de baixo de primeira. O que importa aqui é o clip. A banda subiu no terraço de um prédio de frente para a praia e começou a tocar. Quando as pessoas viram o Red Hot tocando, começaram a aglomerar nas quadras e casas nas imediações do palco improvisado. Ficou um clip bem legal, praticamente uma jam.



Em maio, o programa da Globo, Estrelas, apresentado pela Angélica, convidou o NX Zero para fazer algo parecido. A senhora Hulk fez uma entrevista com a banda no terraço de um pequeno prédio, o que despertou a atenção dos transeuntes. Logo após a entrevista, som na caixa. Foi nítida de onde foi tirada a ideia, uma cópia do clip norte americano. Retomando algum possível questionamento quanto ao meu gosto musical. Não, NX Zero não é uma banda que eu goste. Mas poderiam colocar Raimundos, Titãs, Rita Lee, Marcelo Nova, Plebe Rude e até o Garotos Podres com o Ratos de Porão junto que eu estaria comentando a cópia da ideia.



Sei lá, as vezes acho que é subestimar muito a inteligência do seu público. Devem achar que o público não tem um conhecimento amplo. Tá, ok, muitas vezes os espectadores daquele determinado programa ou de determinada banda realmente não conhece outros estilos, não acompanha tantas coisas assim. Mas mesmo assim, é muito feio fazer essas cópias deslavadas. Não é nenhum pecado mortal utilizar alguma ideia que deu certo, ficou legal, fez sucesso, MAS que faça suas alterações, adaptações. Recrie aquele conceito, o estilo. Que utilize isso como uma influência. Todos nós temos referências, influências de outros profissionais, independente de nossa área de atuação. Acredite: não é feio citar de onde você busca inspiração para fazer seu trabalho.

E para mostrar que isso não é algo isolado, eu deixo aqui os vídeos do @victorbarao no canal #scriptease, falando sobre as "coincidências" musicais.



Para ver os outros vídeos da série, basta clicar aqui, aqui, aqui e aqui.

3 comentários:

  1. AE AE Vitor. Gostei. Mas tem isso demais na música, descaramento tá cada vez maior.

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  2. Com um texto tão bem escrito assim, como discordar?

    Mas, esclarecendo (ou tentando) o fato sobre Live While We're Young e The Clash, nenhum dos integrantes da banda teve participação na composição da música (nem da letra, nem da melodia). E o Harry só sabe dar declarações bestas.

    But, still, it's a cool riff!

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    1. Pode achar que é birra minha por não gostar da banda. Realmente não é o estilo do qual sou fã, mas já que eles tem a genética boa, são bonitinhos, tem todo o direito de conquistar o coraçãozinho juvenil. Atualmente é difícil saber realmente que banda escreve suas próprias letras do zero, sem ficar sugando de outras bandas ou pagando para outros escreverem, além da parte de melodia, que muitas vezes é o produtor musical que manda mais que os próprios integrantes.

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