sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Vergonha em terras alemãs

E o novaiorquino aponta para a lateral de um prédio de uns quatro andares e pergunta: "Aquele ali você conhece, certo?". Olhei para a grande figura humana de pele amarela pintada no edifício. Não fazia ideia do autor. "Mas você não é brasileiro? Como se diz 'The Twins' na sua lingua?", perguntou o norte americano diante do meu desconhecimento. "Os gêmeos?", respondi mais vacilante do que com certeza. "Sim, os brasileiros que saíram de lá e tem pinturas deles em várias cidades aqui na Europa", insistiu o novaiorquino que mora em Berlin há nove anos. Simplesmente assenti com a cabeça, com uma vergonha que não cabia em mim. Momentos antes, andando pelas ruas da capital alemã com o norte americano especialista em street art, eu havia reconhecido as obras de grandes nomes internacionais da arte de rua, tais como Banksy, Blu e El Bocho, mas não consegui reconhecer uma pintura dos artistas do meu próprio país.

Voltei para o hostel pensando no assunto. Eu conhecia artistas internacionais, mas não tinha a mais vaga noção do trabalho de grafiteiros do meu país, os quais era admirados e conceituados no exterior. Eu que era desinformado sobre alguns aspectos culturais do Brasil ou é o país, a cultura nacional que não valoriza devidamente seus artistas e intelectuais, sendo necessário que os mesmos conquistem fama em nações consideradas "desenvolvidas" para que sejam valorizados nas terras tupiniquins?

Já vi muitos exemplos de artistas nacionais que saíram do país, se aventuraram em metrópoles europeias e norte americanas para, só então, voltar ao Brasil e serem reconhecidos pela crítica e pelos cidadãos. Às vezes, não necessariamente para fazer sucesso, mas para conseguirem desenvolver suas potencialidades. Acredito que o Brasil não incentive a cultura tanto quanto deveria ou poderia, obrigando músicos, pintores, acadêmicos, atletas, a ganhar solos estrangeiros para alcançar o máximo de seus desempenhos. Lógico que não podemos generalizar, mas não podemos também descartar que tal realidade exista.

Quando retornei ao Brasil, fui pesquisar sobre as obras, a história, o estilo dos irmãos paulistas, criadores do homem de pele amarela, cabeça chata e longos dedos que habitava o muro de um prédio em Berlin. Não poderia continuar sem conhecer Os Gêmeos e suas sagas. No próprio site dos grafiteiros tem diversas imagens de seus trabalhos. Dentro do site dá pra ler um pouco da trajetória dos dois e ver que um detalhe reforça essa ideia que por tanto tempo martelou minha mente: "Apenas depois de um ano, já com um nome forte no exterios, Os Gêmeos fizeram sua primeira exposição no Brasil, na Galeria Fortes Vilaça, em São Paulo".



Temos que parar de dar mais valor ao que vem de fora, achando que apenas "os gringos" sabem produzir coisas de qualidade. Não entenda isso como um discurso bairrista, regionalista. Não é para fechar as portas para os aspectos internacionais, mas que possamos olhar com maior cuidado, com maior atenção para o que nós produzimos. Garanto que muitas vezes nos surpreenderíamos.

Esse sou eu, novamente com minhas divagações, minhas opiniões, voltando a escrever nesse despretensioso blog.

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