sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A língua não é uma barreira

Foto: Anne Vilela
Continuando as experiências do Encontro de Culturas, achei muito legal um dia que estava na aldeia multiétnica, com vários povos indígenas. Cada etnia falando sua língua, os brancos falando o português e de repente chegam três colombianos para fazer uma apresentação de teatro de bonecos para os presentes na aldeia. Confesso que desde o momento que foi anunciada a vinda desse grupo, La Fanfarria, que eu queria saber como seria essa apresentação pelo fato deles não falarem português.

Andando pela aldeia eu vi duas gurias brincando de palaço com os índios Krahô. Esse povo indígena tem a figura do Hotxuá, um palhaço sagrado que tem a função de fazer os demais rirem, pois o riso e a alegria são uma maneira de espantar as coisas ruins. Trocando uma idéia com elas em busca de uma matéria legal pra escrever, elas me contaram que faziam um trabalho nos hospitais de São Paulo levando a figura do palhaço até as pessoas enfermas. Me rendeu uma puta entrevista, assim que eu pegar os arquivos eu posto aqui pra todo mundo ver essa lição de vida.
Julia, Apract e Demian- Foto: Anne Vilela

Mesmo ela não compreendendo a língua indígena, elas se fizeram entender pelas mímicas e pela ligação que todos, independente de língua, idade ou fronteiras, tem com essa figura lúdica do palhaço.
"É uma linguagem universal",elas me contaram. Quando elas se uniram ao Ismael Apract, o Hotxuá foi diversão e risadas
para todos os lados, contagiando todos que estavam alí, com uma apresentação que dispensou qualquer fala.

Pra fechar a noite, entraram em cena os bonecos do grupo colombiano La Fanfarria, com seu espetáculo visual, contanto uma lenda indígena colombiana para os índios brasileiros. Mesmo com a diferença de idioma, todos os presentes, índios ou não, falando espanhol ou não, mantiveram os olhos grudados nas ações que os bonecos iam desenvolvendo ao longo da história.

Foi engraçado, porque conversando com eles, descobri que eles tinham tido pouquíssimo contato com indígenas, mesmo os colombianos. Isso torna-se uma história no mínimo curiosa, já que eles apresentam há cinco anos uma peça de temática indígena e toda a pesquisa foi feita com base em lívros, vídeos e internet, e não diretamente com os primeiros habitantes do continente. Porém isso não desmerece em nada o teatro apresentado e torna ainda mais especial a estadia e apresentação deles em São Jorge, onde puderam ter esse contato pela primeira vez.
La Fanfarria e Chico Simões
Resumindo, a arte é uma lingua universal, que prende a atenção de todos, tornando a fala algo desnecessário ou secundário. Ela une as mais diferentes culturas, conquistando a atenção de quem está presente. Lição para toda a vida de uma experiência fantástica, inusitada e inesquecível.

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